
Ela chorou por oitenta e dois minutos ininterruptos.
Queria ficar vazia daquela dor tão nova e tão cinza.
Desejou não ser ela.
Queria ser qualquer outra coisa ou pessoa porque, ser ela naquele momento, lhe destroçava o estômago.
Pensou no sorriso que era tão seu, aquele sorriso que era tão instintivo e tão verdadeiro. Sentiu saudades. Onde ele havia se perdido? Talvez só estivesse escondido, com medo de aparecer.
A leveza não estava lá, tampouco a doçura que lhe preenchia há dias atrás. Ela ansiava o silêncio, mas não conseguia calar sua alma.
Ela fechou os olhos e entendeu que palavras podem machucar mais que uma surra.
Sim, ela havia sido espancada ferozmente. E logo apareceriam os hematomas. Porém, ela torcia que eles não virassem cicatrizes.
Deitou a cabeça sobre os joelhos e tentou sentir um pouco de raiva. Mas não conseguia. Dentro dela, no vazio, misturavam-se a dor e o amor. Só.