quinta-feira, outubro 25, 2012

agora

Hoje pela manhã, entre um gole de café e um olhar pela janela, tive vontade de escrever. Entrei no blog vagarosamente, com uma súbita vergonha de ficar tanto tempo sem visitá-lo, contemplei a tela branca e solitária e desatei a teclar desenfreadamente um texto sobre o agora. A impressão que tenho é que entre o começo e o fim do minha escrita eu somente inspirei ar uma vez. Foi assim, de sopetão. Assim que registrei a última palavra me chamaram. Deixei ali, sem apego, as palavras e parti. Quando voltei pra elas, percebi que o computador tinha ficado sem energia e dormiu. E com seu sono levou meu texto para a terra do nunca. Fiz ele despertar imediatamente e ele obedeceu. Mas o texto do agora ele não me devolveu. Nem pude ficar magoada com ele porque fui eu quem virei as costas e esqueci as palavras ali. Agora, tento escrever novamente aquele texto. O texto do agora. Digito, apago. Penso, não lembro. Resgato uma ideia mas ela parece esquisita. Sinto uma palavra mas ela me escapa em seguida. É claro. Era sobre o agora. O agora de hoje de manhã já é passado. Agora é agora. E agora eu não consigo mais dizer o que queria sobre o agora.

sexta-feira, julho 13, 2012

Maria e sua(s) verdade(s)

Maria era assim. Sempre foi. Ao menos era como se reconhecia. Pele clara, lábios finos, olhos de Capitu. Ela via a verdade nas coisas. Sua religião era o amor. Tinha mais sonhos que você e eu juntos. Maria era doce e difícil de azedar. Ela olhava nos olhos, de quem quer que fosse. Cachorro, criança, planta. Todo dia ao despertar, ainda de olhos fechados, ela sorria. E respirava profundamente, alongando o pescoço delicadamente pro lado esquerdo. Só abria os olhos quando sentia verdade dentro de si. Maria queria tudo. E ao mesmo tempo não queria nada. E era essa a contradição dela. É difícil ser alguém assim. É dolorido as vezes. Maria amava demais. Amava de todas as formas possíveis. E o mundo não está acostumado com isso. São julgadas as pessoas que acreditam no amor. Andava descalça, enrolava os cabelos no dedo, cantava em francês, mesmo sem saber o idioma. As vezes ela fumava um cigarro com prazer. E depois sentia culpa e pedia perdão pra si mesma por ter feito algo que não era de verdade. Ou era, naquele momento? Maria se sentia muito estranha. Porque suas certezas variavam, até em minutos. Como se a verdade de agora já fosse mentira na próxima linha. É possível isso? Como viver a verdade se ela sofre essa metamorfose, se ela brinca de se esconder, se ela pinta os cabelos em segundos. Está certo que tinham as verdades que não mudavam, aparentemente nunca. Maria as tinha consigo desde sempre e elas estava ali, sempre iguais. Sempre elas, as verdades. Mas e essas que teimam em ser duvidosas. E não são duvidosas, porque tudo que sentimos de coração jamais é duvidoso. É verdade. E como pode então que em algum tempo curto, já não seja a verdade sentida como verdade. Porque não era verdade? Claro que não. Era. Maria.