quinta-feira, março 26, 2009

m.u.d.e.




Sofia olhava atenta o álbum de quando era pequena, digo, muitíssimo pequena, porque Sofia só tem três anos. Apontou uma foto tirada no dia em que nasceu e perguntou, admirando os olhos azuis de sua mãe:
-Mamãe, quem é essa?
- É a dinda, Sofia!
- A dinda?!? (provavelmente com uma daquelas caras de interrogação incrivelmente espirituosas que só ela sabe fazer...)

Achei muito engraçado o fato de ela me achar tão diferente ao ponto de nem me reconhecer. Claro que nesse caso, isso tem a ver com o corte do cabelo, o emagrece- engroda, etc e tal.
Mas aí, isso me fez parar pra pensar como eu mudei. Como eu tenho mudado e como eu quero mudar tanta coisa ainda. Às vezes tenho a impressão de que quanto mais a gente muda, mais vai vendo o quanto ainda tem pra mudar...
Ô!
“É preciso mudar muito pra ser sempre o mesmo”, já diria uma grande melhor amiga.
E é.

Mas não é fácil mudar, principalmente quando a mudança está ligada a hábitos. Demora. E muito, algumas vezes. Não é fácil mudar, porque mudar pressupõe que você vai chegar novamente ao desconhecido, ao novo, e isso, apesar de poder ser bastante excitante, assusta um bocado.

E aí vem comentários/opiniões variadas do tipo: Como você mudou! (em tom básico, averiguando que você realmente mudou); ou: Ai, como você mudou, ta tão chata, era bem mais legal antes (nesse tom aí que você leu); ou quem sabe: Tá diferente, mudou o que? Hum... não sei, mas ta bacana. (num tom de descoberta, por vezes com um sorriso) E por aí vai......
E Caio Fernando soprou agora no meu ouvido...
"Mudei muito, e não preciso que acreditem na minha mudança para que eu tenha mudado".
E é.

Não adianta... nem sua melhor amiga, nem sua família, nem seu travesseiro jamais terá a real noção de tuuuuuudo que passou dentro de você durante esse “processo”. E a gente até pode tentar falar, postar um texto sobre isso, ir na psicóloga, sei lá... mas não adianta: quando a gente muda de verdade, só a gente sabe como é.



terça-feira, março 17, 2009

o seu olhar......


O seu olhar lá fora

O seu olhar no céu

seu olhar demora

O seu olhar no meu...


O seu olhar seu olhar, melhora melhora o meu...


Onde a brasa mora

e devora o breu

Como a chuva molha

o que se escondeu


O seu olhar seu olhar melhora, melhora o meu...


O seu olhar agora,

o seu olhar nasceu,

o seu olhar me olha,

o seu olhar é seu...


O seu olhar seu olhar, melhora melhora o meu...

quarta-feira, março 04, 2009

O mar de Beatriz.


Beatriz foi à praia na esperança de encontrar respostas.


Sentou em frente ao mar, num lugar mais vazio do que ela mesma. Afundou lentamente os pés na areia morna daquela tarde de primavera.


Tentou relembrar porque ficara tanto tempo longe daquele, que era pra ela tão importante. O mar é, pra Beatriz, como um tipo raro de amigo. Aquele que trás paz pelo simples fato de existir.


Suspirou e fechou os olhos pra ouvir melhor aquele som quase silencioso. Por um instante, quis ficar ali pra sempre. E então suspeitou que não estivesse vazia, e sim, abarrotada.


Deitou espalhando seus cabelos com cheiro de jasmim na areia. Esta lhe acariciava a bochecha. Já Beatriz apertava-a com as mãos bem cerradas, tentando inutilmente deixá-la mais fina do que já era.


Ficou ali imóvel por um momento. Não tinha idéia de quanto tempo passara, mas isso não importava agora, afinal todos os dias Beatriz encontrava um conceito novo pra tentar entender o tempo.


Em um salto ela ficou de pé e se pôs a dançar. Sem ritmo, sem técnica, sem buscar nada. Beatriz só precisava dançar. Girou com tanta verdade que só parou quando caiu de ombros dentro da água.


Riu e chorou. Tudo junto, na mesma intensidade. E assim, mergulhada no mar, Beatriz foi esvaziando, lentamente. Cada lágrima - com ou sem sorriso - que se misturava na água salgada era um espaço ressurgindo dentro de si.


Beatriz então se deparou com uma resposta. As perguntas eram inúmeras, é verdade, mas aquela resposta lhe bastava por hora. E foi naquele dia que ela finalmente percebeu que jamais esteve sozinha. E que, ao contrário do que ela sempre acreditara, não era o vazio que tanto lhe importunava, e sim, o excesso.