quarta-feira, dezembro 01, 2010

uma estrela.


Um amor intenso e brilhante.

Uma dor.

Um turbilhão de sentimentos.

Dez anos de ausência, e em consequencia, de presença constante.

Sim, ela está em tudo. Nas gérberas, no mar, nos cheiros, nas estrelas.

Uma estrela.

Significando junto de mim a mulher da minha vida, meu amor maior.

Uma estrela da Saudade. Uma estrela de Proteção e Presença. No pé direito, pra guiar meus caminhos, por onde quer que eu vá.

segunda-feira, outubro 18, 2010

iria.

respirou fundo e decidiu que iria viver um minuto de cada vez.
mas o minuto presente. sem torcer o pescoço pra trás, nem espichar o nariz pra frente, tentando avistar ou adivinhar.
sem reviver. sem toda aquela ansiedade e inquietude de quem sempre está esperando algo.
iria simplesmente viver. iria ser.
ao menor estava disposta a tentar.

quinta-feira, setembro 16, 2010

depois.



"estreia é quando a gente pula de um trampolim bem alto e só descobre que sabia nadar quando chega na água"....

domingo, agosto 22, 2010

sexta-feira, agosto 06, 2010

Não temos


Não temos amado, acima de todas as coisas.
Não temos aceito o que não se entende porque não queremos passar por tolos. Temos amontoado coisas e seguranças por não nos termos um ao outro. Não temos nenhuma alegria que já não tenha sido catalogada. Temos construído catedrais, e ficado do lado de fora pois as catedrais que nós mesmos construímos, tememos que sejam armadilhas.

Não nos temos entregue a nós mesmos, pois isso seria o começo de uma vida larga e nós a tememos. Temos evitado cair de joelhos diante do primeiro de nós que por amor diga: tens medo. Temos organizado associações e clubes sorridentes onde se serve com ou sem soda. Temos procurado nos salvar mas sem usar a palavra salvação para não nos envergonharmos de ser inocentes. Não temos usado a palavra amor para não termos de reconhecer sua contextura de ódio, de amor, de ciúme e de tantos outros contraditórios. Temos mantido em segredo a nossa morte para tornar nossa vida possível. Muitos de nós fazem arte por não saber como é a outra coisa. Temos disfarçado com falso amor a nossa indiferença, sabendo que nossa indiferença é angústia disfarçada. Temos disfarçado com o pequeno medo o grande medo maior e por isso nunca falamos no que realmente importa. Falar no que realmente importa é considerado uma gafe.

Não temos adorado por termos a sensata mesquinhez de nos lembrarmos a tempo dos falsos deuses. Não temos sido puros e ingênuos para não rirmos de nós mesmos e para que no fim do dia possamos dizer “pelo menos não fui tolo” e assim não ficarmos perplexos antes de apagar a luz. Temos sorrido em público do que não sorriríamos quando ficássemos sozinhos. Temos chamado de fraqueza a nossa candura. Temo-nos temido um ao outro, acima de tudo. E a tudo isso consideramos a vitória nossa de cada dia.”


(Clarice Lispector- Uma aprendizagem ou o livro dos prazeres)
Hoje percebi que se a gente ler um mesmo livro em diferentes momentos da vida, ele torna-se também um livro diferente. É outro. Porque eu sou outra.
Ganhei esse livro em 2006 da minha amiga Marina Monteiro. E quatro anos depois, cá estou redescobrindo palavras e sentimentos do livro que ganhei de presente. E cá estou eu, lendo Clarice e lendo as borboletas da Marina, e me identificando com as duas. E as borboletas dela também são minhas. Assim como a Lóri também sou um pouco eu. Ou. ou. ou....
É, não consigo expressar o que gostaria. E isso não me angustia. Pelo menos não hoje, não agora.

terça-feira, junho 29, 2010

Borboleta amiga


Queridos amigos/ visitantes/ curiosos...


minha grande amiga, escritora e atriz, Marina Monteiro lançou seu primeiro livro "Comendo Borboletas Azuis" no Rio de Janeiro semana passada.


O livro está a venda na livraria Multifoco, no Rio, ou no site http://www.editoramultifoco.com.br/


Eu ainda não tenho o livro, mas posso garantir que vale a pena.


Em breve ela virá lançar o livro aqui em Floripa também!


Beijos

sexta-feira, junho 04, 2010

A escolha de Cícero

Clarice colocou a coleira no seu jabuti para irem passear. Era a primeira vez que fazia aquilo e encontrava-se atônita.

Penteou os cabelos e resolveu que era bom colocar um pouco de blush, pra ficar com um ar mais saudável. Sua prima Heloísa sempre lhe dizia que mulher muito pálida tinha cara de imagem de cemitério.

O jabuti não parecia intrigado, tampouco preocupado. Continuava debaixo da banqueta, piscando um só olho e pegando sol no casco.

Clarice tinha comprado, para a ocasião, uma coleira especial. Era xadrez, em variados tons de vermelho. Achava que combinaria com a tonalidade de Cícero. Ah sim, o jabuti chamava-se Cícero.

E lá foram eles. Clarice resolveu que desceriam pela escada e depois subiriam pelo elevador. Dessa forma o jabuti poderia usufruir e conhecer as duas formas de se locomover do apartamento até a rua. Parecia justo.

Cícero não demonstrava nenhuma excitação, mas também não parecia contra. Ele não reclamou para colocar a coleira e logo na primeira puxada, esticou o pescoço e colocou-se a andar. Caminhava devagar, é verdade, mas todos sabem que isso não significa que ele não quisesse ir ou que estava receoso, só demonstra que ele realmente é um jabuti.

Mas o fato é que na rua todos o contemplavam. Cícero era popular, não passava despercebido. Clarice achava que talvez tivesse escolhido uma coleira extravagante demais para o passeio. Alguns transeuntes olhavam enviesado ou riam as escondidas. Clarice não gostava disso, mas Cícero parecia não se importar.

Enquanto Clarice tomava um suco e o Jabuti sossegava um pouco [a essa altura a sua fisionomia tranqüila já demonstrava certo cansaço], uma menina de uns sete anos se aproximou. Os cabelos cacheados, olhos negros e vivos. Empacou perto deles e ficou olhando muito séria para os dois. Clarice percebeu e sorriu. A menininha então perguntou: - Porque você colocou sua tartaruga numa coleira? – Primeiro que Cícero não é uma tartaruga, é um jabuti. E coloquei a coleira pra ele não fugir durante o passeio, oras. A menininha parecia querer perguntar mais alguma coisa, franziu de leve o nariz, mas se calou.

Clarice, na volta pra casa, decidiu que levaria Cícero no colo uma parte do caminho. Não seria certo, logo no primeiro passeio da sua vida, fazer o bicho fatigar as pernas. E subiriam pelo elevador, como ela já havia previsto. Mas de repente, quando estavam na esquina de casa, Clarice parou subitamente. Olhou com tristeza para Cícero e entendeu que não poderia obrigá-lo a viver com ela. Isso deveria ser uma escolha dele. Sim, era isso que a menina de olhos negros e vivos queria lhe dizer! Que Clarice, embora entupida de tanto amor, não deveria andar com Cícero numa coleira, e sim, deixá-lo livre.

Era difícil tomar esta atitude. O apego, o amor, o hábito, as lembranças, tudo misturado, tornava complexo o ato de deixar o jabuti escolher que rumo tomar. Mas era o que deveria ser feito. Então, Clarice sentou-se na frente do edifício e deitou Cícero em seu colo. Afagou sua testa, porque sabia que esse era seu chamego preferido, e tirou a coleira xadrez que comprara com tanto carinho. O jabuti parecia não entender o momento crucial a que estava sendo exposto naquele momento.

Clarice com os olhos já úmidos adentrou no prédio e chamou o elevador. O coração apertou e antes de a porta se fechar, ela olhou pra trás. Cícero continuava na escada, estagnado, em silêncio, piscando de um olho só. Mas ele não olhou para trás. E isso significava alguma coisa.

quarta-feira, maio 26, 2010

Shitara


Ela me faz relembrar a infância.

Naquela época eu tinha a Chiquitita, a Chica, que sempre ganhava seus rebentos perto de mim. Dava um jeito de se esconder no meu quarto e quando eu acordava.. pááá, a ninhada tava lá. Ela era amiga do Totó. Eles dormiam juntos. Era lindo de ver a amizade deles. Já teve papagaio, o Rico, já teve porquinho da índia, coelho, galinha, pato, mais cachorro, o Pintado. Não, o Pintado veio antes. Mas o que importa a ordem? E o auau Benji, não posso esquecer, que foi a terceira palavra que eu aprendi a falar. Era mama, papa e bebi, o auau. Depois de grande teve mais gato, O Kiko, o Bob, mais cachorro, o Pingo, a Lica... teve peixe, o Felizberto, teve a Dori, a tartaruga.

Hoje eu não tenho mais nenhum bicho. Continuo gostando muito deles, mas é que moro numa casa que não é totalmente minha e além disso, minha rotina não me permite cuidar deles como merecido... e tem as comidas, as vacinas, a rinite, as preocupações, o quem cuida quando eu vou viajar.... Não, não posso ter um de novo, por enquanto.

Mas aí chega ela, que não é minha, mas tá morando lá na casa que também não é totalmente minha. Ela é tipo uma bichana sobrinha de estimação. E vem me trazer sentimentos que fazia um bocado de tempo que eu não vivia. Miado de manhã pra ganhar água (na pia), quer subir na cama, não pode. E olha com aquela cara de tadinha, e ronca, ronca, lambe minha mão, se enrosca na minha perna como só os bons felinos sabem fazer. E eu não resisto. Abro um sorriso e sento no chão, pra mexer no seu pescoço, acariciar sua barriga macia e sentir o seu carinho de bicho, como eu sempre fazia quando era criança.

É, Shitara me traz lembranças boas.

terça-feira, abril 27, 2010

depois.




"Depois de todas as tempestades e naufrágios o que fica de mim em mim é cada vez mais essencial e verdadeiro".

(Caio Fernando Abreu)




[foto de Alice em "Crisálida", de Ligia Maciel Ferraz]

segunda-feira, abril 19, 2010

Não é importante.

"Não precisa ter medo.... se não der certo, você começa de novo."

Mas o fato é que ela não conseguia não ter medo. Sim, ela tentava com todas as forças. Fechava os olhos e repetia em voz baixa pra si mesma que ia dar tudo certo....
Mas a verdade é que ela tinha mais que medo. Tinha aflição, apavoro. Suava frio, tremia de bater os dentes. Só de pensar na possibilidade de não dar certo. Ou seja, de dar errado. De ser um desastre.
"Vão rir de mim" ela pensava insistentemente antes de dormir. Ela não. A sua cabeça que cismava em não parar de pensar, raciocinar, projetar, divagar. Maldição de mente inqueita e teimosa.
E ela virou de um lado pro outro, minuto após a minuto até de manhãzinha. O lençol saiu da cama, deixando sua pele encostada no colchão, e ela detestava isso. Sentou ereta, apoiou as mãos na cabeça e chegou a uma conclusão.

"Não é importante".

E se não é importante..............

terça-feira, março 30, 2010

turnê.


a doblo fica pequena de tanta tralha. a estrada é ruim, mas o caminho é bonito. há a alegria do reencontro. há a preguiça de outro encontro. nem tudo é perfeito.
a tesoura quebra. o baú desmonta. o boneco cyber quebra a cabeça. a porta do carro quebra. tá tudo se quebrando? o pneu fura. não adianta encher de novo. não era essa rua, era a outra. vai reto. reto pra onde? cadê minha água? faz meu cabelo? tô com dor de barriga, fudeu!!! tem certeza moça que não tem apresentação marcada nessa escola? entrevista as 6 da manhã. que comida é essa? amiga. esse suco tem gosto de jarra. as crianças invadiram o cenário. o ventilador tá fazendo muito barulho, não consigo dormir. escorrega no tapete, machuquei minha coxa. poxa. mensagens, ligações. água de 5 litros é pouco. pode ser torto. não suporto mais. passa um saco de peso pra eu fazer de travesseiro? sorrisos. o bilboquê. o broto. tartaruga. o porta coisas. lixo de mesa. tesoura. boi. papelão. gordinho não chora que eu te dou outra garrafa. a toalha arranha. não quero sair pra jantar. doritos ou cheetos. medo. lixo na lixeira. nota fiscal. cartão clonado. marca de batom e pão mofado no café da manhã. pai? dor. amor. saudade. olhos brilhantes. pedaço de gente no lixo orgânico. semente de jibóia. certezas. desvio. desvio. desvio. velha benzedeira.
trechos de três semanas. tanta coisa. umas previsíveis, outras inacreditáveis.
sempre assim. ainda não acabou. é, não acabou.
uma semana de folga pra colocar as costas no lugar, esvaziar a alma, matar a saudade e fazer tarefas burocráticas.
e depois?
ah depois é depois.
eu quero saber é de agora.



sexta-feira, março 05, 2010

a frase do momento.





"Deixa estar que o que for pra ser vigora"

sexta-feira, janeiro 29, 2010

dentro dela.


Ela chorou por oitenta e dois minutos ininterruptos.


Queria ficar vazia daquela dor tão nova e tão cinza.


Desejou não ser ela.


Queria ser qualquer outra coisa ou pessoa porque, ser ela naquele momento, lhe destroçava o estômago.


Pensou no sorriso que era tão seu, aquele sorriso que era tão instintivo e tão verdadeiro. Sentiu saudades. Onde ele havia se perdido? Talvez só estivesse escondido, com medo de aparecer.


A leveza não estava lá, tampouco a doçura que lhe preenchia há dias atrás. Ela ansiava o silêncio, mas não conseguia calar sua alma.


Ela fechou os olhos e entendeu que palavras podem machucar mais que uma surra.


Sim, ela havia sido espancada ferozmente. E logo apareceriam os hematomas. Porém, ela torcia que eles não virassem cicatrizes.


Deitou a cabeça sobre os joelhos e tentou sentir um pouco de raiva. Mas não conseguia. Dentro dela, no vazio, misturavam-se a dor e o amor. Só.