quarta-feira, abril 15, 2009

Catarina, uma taurina.


Catarina era taurina. Ela não sabia o que isso significa, mas sempre ouvia sua mãe dizer para a vizinha...“Catarina tem esse gênio porque é de touro... e com a lua em sagitário, pra completar”.

Catarina, sempre que ouvia aquilo, tentava buscar explicações pra fala da mãe. Mas a menina só tinha cinco anos. E com cinco anos ela não conseguia entender o que diziam os livros, mesmo já sabendo que os livros geralmente são donos de algumas respostas.

Sobre ela mesma, Catarina sabia apenas algumas coisas. Que tinha uma mão cheia de idade, que gostava de comer sorvete com calda de chocolate, que tinha uma mãe e um pai que não moravam juntos, mas mesmo assim eram seu pai e sua mãe para todo o sempre. Sabia que cachorros devem ficar no quintal, que não se pode sujar o chão com tinta guache, que a noite se dorme e de dia se brinca, que uma pessoa pode chorar de tristeza ou de alegria e que os adultos sabem ser muito esquisitos as vezes. É... até que Catarina sabia bastante coisa. Mas sobre ser uma taurina.....

Ela começou a pensar compulsivamente sobre o assunto, sempre deitada de barriga pra cima, olhando pro alto, enquanto contava e recontava quantos azulejos tinha o teto. Começou a desconfiar então que ela não era humana. Sim, pois se ela era de touro, talvez fosse um touro filhote disfarçado de humana, ou então um filhote touro sendo criado por humanos! Isso lhe colocava um baita frio na espinha... mas essa hipótese não a convencia pois quando ela se olhava na banheira percebia que era igualzinha a todas as meninas da sua rua. E sagitário então? Ela nem sabia que bicho ou coisa era essa...

O que deixava Catarina mais atônita é que ela não tinha idéia se ser taurina era bom ou ruim. Às vezes sua mãe falava isso sorrindo, mas outros dias falava de forma que sua ruga da testa ficava saliente, e aquilo não era um bom sinal.

Quando Catarina fez seis anos, não agüentou. Finalmente desistiu de mirabolar idéias e perguntou pra sua mãe porque ela era uma taurina.
A mãe enrolando brigadeiros com a maior pressa do mundo respondeu: “ Porque você nasceu hoje Catarina, hoje é dia do seu aniversário, dez de maio. Então você é uma taurina”.

A mãe disse aquilo como se fosse a coisa mais evidente e simples do mundo, mas para Catarina aquelas palavras ficaram se esbarrando dentro da cabeça, de um lado pra outro, pra cima e pra baixo.
“E você mamãe, também é taurina?”, perguntou a menina com os olhos cobertos de ansiedade.
“Não Cata, sou leonina, nasci em agosto”, finalizou a mãe, com um meio sorriso no rosto.

E então Catarina, juntando todas as informações que conseguiu colher nos últimos tempos, finalmente percebeu que era tudo muito simples. Havia enfim desvendado que quem nasceu em maio foi trazido até seus pais por um touro, talvez até vários deles. E que quem nasceu em agosto foi trazido do céu (ou seria da selva) por um leão! Assim como tem gente que é trazido por uma cegonha, ela tinha sido trazida por um touro, o que lhe parecia até mais divertido.

É verdade que Catarina ficou ainda um pouco receosa, em dúvida acerca da veracidade de sua descoberta, mas o alívio de achar uma resposta era maior que qualquer coisa.
“E nos outros meses... quem trás?”, pensou curiosa a menina. Ah, mas no fim das contas isso não importava agora, pois afinal ser uma taurina começava a fazer sentido para Catarina. Contudo, ela agora precisava partir para uma nova etapa de sua batalha: achar uma pista sobre que diabos a lua estava fazendo em sa-gi-tá-rio, que não estava no céu, quando ela chegou ao mundo....

2 comentários:

Ila disse...

não conhecia essa tua veia literária, raquelita. estou gostando. persevere! besos.

Jana disse...

Lindo, lindo, lindo post!